- 歌曲
- 时长
简介
Rafique Nasser é Valenciano (BA) nascido em 25 de julho 1998. Ainda jovem conheceu o mundo da cultura pelas lentes de seu avô radiojornalista, amante do futebol, carpinteiro e memorialista por amor. Conheceu ainda cedo as canções nordestinas do final da década de 1960 e início de 1970, encantando-se especialmente pelo Ceará de Fagner e Ednardo, pelo Pernambuco de Alceu Valença e pelo sertão trovador baiano de Elomar e Xangai. Outra influência decisiva foi o Grupo Cultural Viola de Bolso (Eunápolis-BA) com quem Rafique conviveu rapidamente no ensino médio, mas que marcou-lhe pelo encanto das palavras e pelo engajamento cultural. Teve uma passagem pelos templos pentecostais, onde desenvolveu seu instrumento de trabalho, o violão. Filho de um barbeiro e de uma técnica em enfermagem, viveu a experiência do subúrbio de uma cidade interiorana na Bahia, convivendo com bumba-meu-boi, levadas carnavalescas, o pagode baiano e as festas de rua. Sempre frequentou escolas públicas, tendo participado das jornadas de ocupações escolares de 2016, quando foi presidente do Grêmio Estudantil Paulo Freire do campus Valença do IFBA. Seu cancioneiro está, portanto, entrecortado pela condição de ser um jovem em meio às lutas da vida e da cultura dos trabalhadores. Valença é uma cidade litorânea do Baixo Sul da Bahia cercada por manguezais, historicamente marcada pela presença de uma indústria naval tradicional, povoada pela gente dos estaleiros de barcos de madeira. É nesta cidade banhada pelo Rio Una que Rafique vê o dilema entre a criatividade de uma geração inteira de artistas em plena ebulição e a necessidade de sobreviver trabalhando em áreas muito distintas da cultura. Ser filho de trabalhadores é aprender desde cedo que o sonho precisa dialogar com a dura realidade diária. É no embalo desta reflexão que surge a canção ‘Na Valença’, em meio às incertezas do caminho trilhado através das artes, as pessoas vão se enforcando em seus trabalhos e a cidade vai dormir todos os dias nesta agonizante incerteza. No interior do estado, este conflito é ampliado e assim, só foi possível começar a pensar num caminho através da música quando Rafique militou nas fileiras de um festival regional de arte e cultura (SEIVA 2016). Foi dali que surgiram duas parcerias importantes. A primeira com Erahs (Erahsto Felício) com quem foi aprendendo a lida na produção cultural e com quem, posteriormente, trabalhou em conjunto na composição de canções, sendo atualmente um parceiro em ao menos seis. A segunda com Ayam Ubrais Barco, que o incentivou a gravar o EP garantindo as condições de fazê-lo através do Canoa Sonora, estúdio seu em parceria com Ismera Rock. E assim se formou a parceria valiosa para construção desta obra coletiva. O EP leva o nome da canção que iniciou este processo. Em ‘Arado’ (composta em parceria com Ayam Ubrais), Rafique dialoga com a estupidez das pessoas que não dimensiona nem a importância do trabalho na terra (que leva comida à mesa), tampouco o trabalho da arte (que leva amor e reflexão à vida), gente que “não sabe que o rasgo na terra é preciso”. A arte e o trabalho rural são obras coletivas. Sempre precisa de um outro, uma outra. E foi assim que começou a tecitura deste EP realizado a muitas mãos. O projeto conta com o mestre rabequeiro Will Marques (que já tinha contribuído com o aperfeiçoamento de Rafique ao violão no ensino médio), o percussionista Petry Lordelo, o contrabaixista e diretor musical Danilo Ornelas (Mulheres em Domínio Público), a sensibilidade da craviola de Raoni Veloso, a flauta de Anselmo Farias (Viola de Bolso) a guitarra de Ismera Rock e as vozes de Ayam Ubrais Barco, Rebeca Vivas, Tais Carvalho e Nil Lima. Tudo isto feito de forma colaborativa. Foi gravado no estúdio 1003 (Salvador), Canoa Sonora (Ilhéus) e Viola de Bolso (Eunápolis). A produção cultural foi realizada por Erahs, a produção fonográfica e mixagem ficaram a cargo de Ismera Rock, tendo a direção de vozes e artes da capa por Ayam Ubrais Barco, a direção musical de Danilo Ornelas e masterização por Átila Santana (IFÁ Afrobeat). A história dentro das canções do EP ainda ressalta a luta do trabalhador pela sua diversão, lazer, ócio através da canção ‘Dom Bosco’ (única que não é de autoria de Rafique), onde a embriagues com o vinho barato e a dor de cabeça clamam por aproximar o eu/trabalhador da amada enquanto se poupa o pouco dinheiro que há para brindar a vida. Curado da ressaca, Nasser olha a terra cultivada e vê ela como fruto da lida, do suor, vida e fome de quem planta. ‘Nessa terra’ é um clamor por justiça social de quem observa que até as lágrimas servem para molhar o chão seco. Ela absorve a dificuldade de amar em meio aos temores: “Nossos amores, formas de fugir do medo. De guardar mil segredos que o ladrão não pode descobrir”. A música que finaliza o disco é uma convocação sensível a duas jornadas de luta, a interior em busca dos muitos amores, e a exterior em busca da justiça social. ‘Manifesta’ (composta em parceria com Erahs) afirma que a poesia é a alma que habita o corpo – uma casa de argila – e que apesar de estarmos medindo “o tombo antes de cair”, nosso destino é manifestar, é cair para dentro, é gritar fora, ocupar, tomar o lugar, tornar-se quem temos ainda que ser. Rafique Nasser é um jovem de apenas 19 anos, ingressando em seu primeiro ano de jornalismo (UFRB), mas com um talento extraordinário para a mobilização social e a compreensão do outro, da outra. Ouvir o EP ‘Arado’ é ler o início de um livro enquanto o autor ainda escreve seus próximos capítulos, é descobrir a obra enquanto ela é criada. Descobrir que “o céu lá fora é azul e o meu cá dentro é madrugada”, início de dia, começo de jornada, primeiros passos deste jovem músico! Salve a música brasileira, a juventude em luta e a poesia no cabo da enxada!