O disco merece ser ouvido com atenção. A faixa título é vigorosa. Repleta de riffs de guitarras, revela uma melodia embolada, um tanto nordestina, com jogos de palavras vertiginosos: "o tempo à toa atua em indecisão"; "confusa a fuga afaga o fogo". Se Desvenda fosse um dos antigos LPs, certamente a balada Verso final abriria o lado B. A canção em tom maior surpreende com melodias diferentes para as mesmas estrofes. “O verso ‘sei lá’, cantado onze vezes durante a música, foi pensado para ser acompanhado pelo público”, conta o compositor Gus Levy. Basta assistir a um único show para comprovar que a estratégia deu certo. A influência pop continua em Por um segundo, música que cita Caetano Veloso em seu primeiro verso, e arranca suspiros da ala feminina da plateia (“Só eu, você e Caetano/Fecha esse sorriso longo, se não/Os meus instintos de ser humano/Vão te atacar/Vou respirar bem fundo/Pra evitar/Mas foi por um segundo/Que hesitar.../Salvou você de mim”). Brasileiros, cariocas que são, Os Dentes não poderiam deixar de homenagear Tom Jobim e Vinícius de Moraes e de flertar com a eterna Garota de Ipanema. A moça retratada em Sem ar é avassaladora a ponto de merecer o único solo de guitarra realmente longo do CD, um solo nervoso e distorcido que deixa evidente uma crítica ao disco – deveria haver outros assim. Para completar a sessão, um iêiêiê seco e propositalmente bruto. Moca conquista o ouvinte por sua melodia assobiável, letra com crítica social e refrão em 7/4 que merece audição atenta. A faixa Ímpar mostra a bem sucedida parceria entre baixo e bateria, uma marca da banda. Aquela música feita na brincadeira e que vira sucesso de publico também faz parte da história de Os Dentes. O rock brincalhão Bom pra Você é pedida certa para todos os shows, recitais, saraus e rodinhas de violão que contem com a participação dos integrantes da banda. Uma fanfarra autobiográfica que tira sarro de situações compartilhadas por muitos jovens.