A música de Bach – que Villa-Lobos dizia ser o folclore do músico tal a sua presença em toda a criação que a ela se seguiu – aparece, neste projeto, quase como uma devolução.  O que escutamos é puro Bach e, ao mesmo tempo, o revelar da influência deste grande compositor de uma forma curiosa e surpreendente. Ao escutarmos as obras deste belo CD, parece que estamos ouvindo música composta, hoje, para viola caipira com influência de Bach. Neste repertório, aparece também a similaridade da viola com o cravo - algo não tão evidente em outros universos musicais. A viola, aqui, de certa forma recria sua história como um instrumento barroco, sua sonoridade nos transporta para este tempo - real ou imaginário.  Na verdade, creio que temos poucas certezas do universo sonoro daquele tempo não tão distante, mas com documentação apenas escrita ou oral - sem registros de gravações que poderiam nos revelar muitas surpresas.  A visita a qualquer bom museu da história dos instrumentos musicais, como os existentes em Paris, Berlim ou Bruxelas, mostram-nos inúmeras descobertas e assombros.  Surpresa é poder ouvir, neste álbum, as variações Goldberg em viola e rabeca. Simplesmente porque soa muito bonito. E, novamente, o novo e o antigo. Esdras Rodrigues toca com evidente beleza a parte da rabeca, da mesma forma Fabio Presgrave no violoncelo. Assim, são muitos os espelhos, os reflexos, os jogos que esta gravação suscita.  Vem à tona a ideia daquilo que é perene, estável, do que é profundamente humano e habita distintas épocas sem nunca deixar de sê-lo.  As questões essenciais de quem somos, de nossa moralidade, ética, dos infinitos desafios e lutas de todos os tempos – do sofrimento e consolo – estão, aqui, presentes, independentemente de fatores temporais e geográficos.  Em tempos de buscas por ”inovações”, sem dúvida, a interpretação atenta, cuidadosa e musical de Vinícius nos traz um conforto e, simultaneamente, desperta ideia de assombro por trazer algo tão canônico executado de forma tão original e, ao mesmo tempo, apropriada.  A música une tudo. Espero que una e inspire cada um que ouvir este belo trabalho.  BENJAMIM TAUBKIN